Grease - Quando a vida era menos complicada

Produzido um ano depois do estrondoso sucesso “Os embalos de sábado à noite”, “Grease: Nos tempos da brilhantina” provou de vez que John Travolta tinha se tornado uma superestrela de Hollywood. O produtor Robert Stigwood ainda teve a bela sacada de escalar a cantora australiana Olivia Newton-John para ser seu par – foi sua estreia como atriz nos EUA, após os seguidos hits nas paradas da música pop mundiais. Se, nos “Embalos”, as meninas não tinham com quem se identificar, agora elas viam a doce Sandy. Em “Grease”, os meninos queriam ser Danny Zuko, e as meninas queriam ser Sandy. E o desejo sexual por ambos hipnotizava o público.

Inspirado no musical da Broadway de 1972, “Grease” funciona pela trama simples, pelas canções chiclete, coreografias bacanas, por uma química impressionante entre Travolta e Olivia (o público torceu muito para que os astros virassem um casal na vida real) e por que não tem pudor de ser cafona. O filme sobre dois adolescentes que têm um romance no verão e descobrem que estão na mesma escola é uma versão sem muitos neurônios e profundidade do musical “Amor, sublime amor” (1961).

Mas não se pode dizer que o filme seja pobre de ideias. No meio do inocente romance, o diretor Randal Kleiser soube inserir sutilmente várias referências sexuais. A transformação de Sandy no final do filme é um tapa no conservadorismo: ela só é aceita no grupo quando veste uma roupa provocante e acende um cigarro – por conseguinte, provoca uma catarse no espectador.

Além de toda a questão da libido, “Grease” é uma viagem nostálgica e satírica aos anos 50, quando os jovens curtiam o recreio da escola, ir ao cinema (de preferência um drive-in), beber um milk shake e, quem sabe, levar a sua paixão juvenil para a cama (e nesse quesito, meninas em pé de igualdade com os meninos). Época em que a vida era menos complicada.

(Texto publicado na revista da mostra "Nos Embalos de Uma Parceria", realização ACCRJ/Cinemateca do MAM - agosto 2019)