Paranoid Park, de Gus Van Sant (França/EUA)
Por Leonardo Luiz Ferreira
Paranoid Park não é um filme sobre skate. É a partir de um skatista de nome Alex que o cineasta Gus Van Sant continua a focar seu olhar sobre a juventude em um universo no qual demonstra total domínio de território, em especial, na dificuldade do jovem em se adequar dentro do mundo, em seu microcosmo caótico no qual o diálogo se transforma em silêncio.
A câmera desde o princípio promove uma entrega total ao personagem principal. É difícil encontrar uma mise-en-scène em que tudo gira em torno de como este personagem enxerga o mundo: o seu pai é apenas um borrão fora de foco; a sua mãe é vista de costas; e diversos personagens são retratados em câmera lenta com o olhar voltado para o rapaz.Paranoid Park respira Alex e traduz, por intermédio da composição de imagens, a sua dificuldade em se relacionar, com seu olhar, por diversos momentos, para fora do quadro, como se buscasse enxergar algo além de seu plano de visão.
O filme se estabelece como uma viagem interior que extrai sua intensidade através do silêncio, das longas caminhadas, e do olhar que nunca parece se encontrar. Na elaboração dessa busca, o diretor coloca o espectador ao lado de Alex e este vê tudo por sua perspectiva fragmentada em um reflexo direto com sua personalidade introspectiva, e que só encontra uma felicidade esparsa ao observar skatistas em seus voos no asfalto com movimentos que buscam sair do chão e vislumbrar novos horizontes; e vem daí a sua ligação hipnótica, como um túnel em que o tempo pára e parece só existir o aqui, agora, sem nada ao redor. Já que viver em tão tenra idade é uma tarefa árdua.
Através de Paranoid Park, Van Sant se reafirma como o poeta dos outsiders.