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O Artista (The artist), de Michel Hazanavicius (França/Bélgica)

Por Susana Schild

Com mais de 100 prêmios internacionais, incluindo cinco estatuetas do Oscar, entre elas as de melhor filme, melhor diretor (Michel Hazanavicius) e melhor ator (Jean Dujardin), "O Artista" foi uma das maiores surpresas de 2012. Sucessos e fracassos, de público, de crítica, de prêmios, são difíceis de prever e, não raro, de justificar. No caso, nada parecia indicar que uma produção francesa em preto e branco, muda, de narrativa clássica, assinada por um diretor de sucesso restrito a seu país, falasse tão alto a corações e retinas de espectadores de todo o mundo.

Como trama, o diretor de nome impronunciável, também autor do roteiro, contrapõe a decadência de um astro do cinema mudo, George Valentin (Jean Dujardin, soberbo), vítima do pecado mortal de se achar imortal para o público, à ascensão de uma starlet, a encantadora Peppy Miller (Berenice Bejo). A crise de 1929 só piora as coisas para o ator cada vez mais esquecido, empobrecido, desesperançado, como foram alguns colegas na tela em obras tão distintas quanto "Crepúsculo dos Deuses" (1950), "Cantando na Chuva" (1952), "Nasce uma Estrela" (1954).

O charme da produção em preto e branco se apoia em requintado entrosamento das partes: a virtuosa fotografia de Guillaume Schiffmann, a inspirada trilha sonora de Ludovic Bource e ainda a direção de arte, os figurinos, a maquiagem. Em filme que tem como tema central as intempéries da carreira artística, não bastava acertar nos personagens principais. E o espectador é brindado com um desfile impecável de coadjuvantes - não há ator (humano ou canino) desperdiçado, seja James Cromwell, como o mordomo, John Goodman, como produtor, um quixotesco Malcolm McDowell (quem não se lembra de "Laranja Mecânica" (1971)?) ou o cãozinho Jack. 

Cartelas divertidas ou melancólicas alinhavam uma história que fala de sonhos numa época supostamente mais pura (pelo menos nas telas). O diretor também foi certeiro na proeza de homenagear Hollywood e, ao mesmo tempo, colocar o dedo na ferida que vitimiza artistas e técnicos "ultrapassados" por novas exigências do mercado, insaciável em seu apetite por carne fresca. 

"O Artista" é, antes de tudo, uma ode à arte de representar, superar obstáculos, ajustar-se a novos tempos. Desafios que encontram particular ressonância neste início de século em que o cinema se debate em overdose tecnológica de efeitos visuais e sonoros, montagens histéricas, personagens despersonalizados e a busca do blockbuster acima de tudo (para a grande maioria). Mas há exceções, sem dúvida. "O Artista" é uma delas, consagrado, talvez, por restaurar com aparente simplicidade o singelo prazer de ver de priscas eras. De forma delicada e irônica, o filme também avisa: quem não se ajustar aos novos tempos, dança. Literalmente.

The Artist - França/ Bélgica, 2011 - Direção: Michel Hazanavicius - Roteiro:  Michel Hazanavicius - Produção: Thomas Langmann, Emmanuel Montamat - Fotografia: Guillaume Schiffman  - Montagem: Anne-Sophie Bion e Michel Hazanavicius - Elenco: Jean Dujardin, Bérénice Bejo, John Goodman, James Cromwell, Penelope Ann Miller, Missi Pyle, Beth Grant, Ed Lauter, Joel Murray, Bitsie Tulloch, Ken Davitian, Malcolm McDowell - Duração: 100 minutos.

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