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Homenagem a Jean Luc-Godard

Por Gilberto Silva Jr.

O pensador da sétima arte

Não seria exagero afirmar que, para o cinema de invenção, a partida de Jean-Luc Godard, em 13 de setembro de 2022, pode ser comparada à perda de Pelé para o futebol. Artista incansável no que se refere à inovação e reflexão sobre a linguagem cinematográfica, Godard, construiu, ao longo de mais de seis décadas de atividade, uma obra que se define como um gênero em si própria.

 

Pensar cinema é algo que Jean-Luc já desenvolvia desde antes de se iniciar na realização, juntamente aos chamados “jovens turcos” na redação da revista Cahiers du Cinéma. Mesmo partilhando uma mesma origem e causando uma revolução na sétima arte com o movimento da nouvelle vague, as obras de Godard, Rohmer, Truffaut, Rivette e Chabrol não viriam a desenvolver um conjunto de filmes coeso e uniforme, principalmente a partir da década de 1960, quando os diversos caminhos seguidos por cada um deles se configuraram de forma mais definida. Por sua vez, considerando os longas de estreia dos autores citados, nenhum deles causou tanto impacto quanto “Acossado” (1960), que exalava um senso de liberdade, mantendo um pé na história pregressa do cinema e outro pé no delineamento do que seria seu futuro.

 

A eterna inquietude foi um motor que direcionou toda a criação de Godard. Revisão dos gêneros cinematográficos clássicos, reflexões sobre política com um posicionamento vigoroso, críticas ácidas sobre a sociedade contemporânea, colagens sobre artes e demonstrações de um puro afeto ao cinema se misturam ao longo de toda sua filmografia.

 

Se os filmes da década de 60 mantiveram um caráter mítico, sendo os mais acessíveis e, por que não dizer, populares até o dia de hoje, é de extrema importância não subestimar a criação posterior do mestre. Considerando especificamente a produção do século XXI, Godard seguiu até o fim de seu trabalho remando na contracorrente de um cinema cada vez regido por emoções adrenalinadas e êxitos de bilheteria imediato. Títulos como “Filme socialismo” (2010) ou “Adeus à linguagem” (2014) se alinham entre o melhor de sua obra, radicalizando de forma única suas reflexões sobre as potencialidades do cinema enquanto território de criação artística com uma gramática própria.

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