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Como Nossos Pais

Por Francisco Russo

A vida como ela é

Mudam as épocas, chegam novas tecnologias, o tempo fica cada vez mais escasso para tanto que acontece à nossa volta, mas há uma verdade universal: o relacionamento humano é complexo. Quanto mais aquele vivenciado entre quatro paredes, dia após dia, em que compromissos emocionais se misturam a padrões morais e comportamentais, sempre em busca do sonhado objetivo maior: a felicidade. Mas será possível?

 

É fácil apontar o novo filme dirigido por Laís Bodanzky como a representação cinematográfica da alma feminina, com suas inquietudes e acúmulos de tarefas, se equilibrando entre família e trabalho. É fácil apontá-lo também como a eterna disputa entre pais e filhos, nesta tensão contínua entre quem manda e quem obedece que resulta, sempre, em brigas e aprendizados. Também é fácil representá-lo pela importância do afeto, seja no cotidiano, seja mesmo na união de células que, biologicamente, determina as feições físicas de cada um. Mas, por outro lado, seria simplório demais analisar "Como nossos pais" por apenas um destes aspectos.

 

Com uma delicadeza impressionante, Laís Bodanzky construiu em seu novo filme uma síntese da vida contemporânea, a partir de tantas emoções e sensações que é difícil, em algum momento, não se identificar. Em parte também devido à garra demonstrada por Maria Ribeiro, que assume o personagem de sua vida ao compor uma Rosa ora raivosa, ora carinhosa, sempre inquieta - com o marido, com a mãe, com os pais, consigo mesma. Sua insatisfação constante, sempre impulsionada pelos problemas onipresentes, faz também parte da psique humana: ser feliz não é, também, um estado de compreensão?

 

Há um quê filosófico em "Como nossos pais" que permeia o longa-metragem, por mais que tais ensinamentos estejam disfarçados, espalhados em meio a diálogos tão ricos e personagens complexos, que fogem à fácil pecha de heróis e vilões. Eles não existem no roteiro de Bodanzky e Luiz Bolognesi, por serem arquétipos tão rasos sobre a própria vida: todos são heróis e todos são vilões, em algum momento. Assim é o ser humano, sempre imperfeito - e é nesta imperfeição que está a maior das belezas do filme.

 

Em sua crônica sobre a vida adulta, Bodanzky brilha também na precisa escolha de enquadramentos, que tanto dizem sobre o momento em questão, e também na ausência quase completa de trilha sonora, valorizando a força dos diálogos e as atuações. Se Maria Ribeiro brilha intensamente, há também um Jorge Mautner encantador em suas embromações e uma Clarisse Abujamra estonteante em sua rigidez fundamentada, somados à catarse absoluta quando a versão instrumental da canção-título surge em cena. Aliado a um roteiro deliciosamente sensível e a uma direção segura, que sabe bem aonde deseja chegar, "Como nossos pais" é daquelas experiências cinematográficas que vão além da sala escura, repercutindo por um bom tempo após a sessão.

Como Nossos Pais (Como Nossos Pais, 2016). Direção: Laís Bodanzky. Elenco: Maria Ribeiro, Paulo Vilhena, Clarisse Abujamra. Drama. Sinopse: Vivendo uma crise no casamento, Rosa vive atarefada com a criação de suas duas filhas, enquanto precisa lidar com problemas com os pais e com o dilema de manter a rotina ou realizar seus sonhos. 82 minutos. 14 anos.

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