Cidadão Boilosen, de Chaim Litewski (Brasil)
Por Ricardo Largman
O paralelo parece inevitável: dois documentários que tentam (re)contar a "verdadeira" história de figuras controversas do passado recente do país. Henning Albert Boilesen, empresário dinamarquês naturalizado brasileiro, executado em 1971 por militantes de esquerda, em Cidadão Boilesen, dirigido pelo jornalista carioca Chaim Litewski, e o cantor Wilson Simonal, execrado pela mídia após um controverso episódio, também no início dos anos 70, envolvendo seu contador e agentes do Dops, emSimonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei, de Claudio Manoel, Calvito Leal e Micael Langer. Dois bons "docs", ambos com apurado acabamento gráfico e riquíssima pesquisa de imagens (e de entrevistados), além de bastante premiados em festivais e elogiados pela crítica. E por que apenas Boilesen entrou na lista da ACCRJ?
Em parte, talvez, porque o filme de Simonal, a despeito do seu evidente apelo popular, não é, digamos, tão conclusivo quanto o outro. Desde o início, da abertura com o programa "Amaral Netto, o Repórter", Litewski expõe de forma direta sua teoria para o espectador: seu protagonista seria um ativo colaborador do regime militar. Ao lado de outros grandes empresários paulistas, o dinamarquês teria financiado a famigerada Operação Bandeirantes, a Oban, e, por motivações pessoais, assistido às sessões de tortura nos porões das delegacias policiais da cidade.
Com o cruzamento de dezenas de depoimentos (a produção tentou mais de 200), indícios, suspeitas e denúncias, que pontuam toda a narrativa, são transformados em provas cabais, em verdades absolutas, mesmo na contramão da "história oficial". Assim, ao contestar o perfil de monstro desenhado por alguns dos entrevistados, o máximo que o filho de Boilesen consegue provocar é o riso da plateia. O cidadão Litewski levou quase 15 anos para finalizar o filme, mas sua teoria - apoiada tanto pela ironia do recém-falecido coronel Erasmo Dias quanto pela honestidade reveladora do ex-militante Carlos Eugênio Sarmento da Paz - estava certa.